travou no intervalo da batida



- Absurdo! dizia, enquanto percorria mais
uma vez uma rua que conhecia bem demais
(o que nunca é bom, afinal é assim que os
defeitos vão dominando tudo que um dia
reluziu o brilho d'uma era dourada). O resmungo
era dirigido a tudo tão errado que via, tudo
que tinha uma possibilidade ínfima de dar
errado e dava. Não que esperasse arco íris
e potes de ouro de anões calvos de ternos
verdes e barbichas, isso seria passar recibo
de vacilo prestado. O que realmente pesava
era sua imaginação, um mundo de regras tão
flexíveis a ponto de inexistir que mostrava
as coisas melhores do que são.


Nesse dia percebeu sua mingua. Já não portava as
roupas com a mesma presença, aparentando cada
vez mais como uma perda de tempo. Também notou
que o mundo que habitava sua imaginação atingia
a era utópica, prevendo um futuro brilhante e
sem ilusão, a definitiva afirmação da realidade
simples e pesada, até violenta. Juntou A ao B, o que
o levou ao AB (ns) e a visão do grande êxodo pessoal
rumo ao interior, a volta para casa tão cantada e
já esquecida. O exterior vai ficando vazio e moribundo,
e todos os olhos se voltam para dentro.