i walk the line

fulaninho de la mancha


hoje, indo no fluxo da rotina, ele subitamente desacelerou o passo.
cadenciou o ritmo para um vagar contemplativo e sem sentido.
mas te acalma, vivente. ninguém tá aqui pra fazer você ler sobre a
caótica vida moderna, necessidade de desapego ou qualquer outra
coisa banal que bem poderia sair da boca do sergio chapelin. essas
linhas são somente sobre um pessoa andando devagar. só. bueno,
voltando para a narrativa em terceira pessoa, - ou não - o estimado
protagonista já ia acelerar o corriqueiro andar pelo trajeto do de cor
e salteado quando, súbito, se viu pensando no que fazia, como naqueles
momentos em que tiramos do piloto automático a respiração e nos
fazemos responsáveis pela entrada e saída do precioso e desapercebido
ar. se fez conciente do deslocar no espaço, de todos que andavam
absortos em corcundas de cabisbaixismo, da amplidão absurda de
possibilidades que é uma rua, uma praça, um espaço aberto.



nessa marcha de absurdos, viu gente olhando para o óbvio nada
e pensou 'mas como faz para manter o foco em coisa nenhuma?', viu
gente falando só pra ouvir o som da própria voz, viu gente tentando
sem poder conseguir, viu gente fantasiada de gente, vê se pode! contou
os passos, analisou as calçadas nossas de cada dia (ruins, não?), olhou
uma nuvem que ameaçava o sol no céu, aquele estranho. fez seu
caminho diário num tempo doze vezes maior que o recomendado
na bula da santa sé. chegou no trabalho com a estranha sensação de
algo na ponta da língua que hesitava em sair, qualquer coisa entre
um gran finale no lusco-fusco e o sentido da vida pythonesco.
numa avenida de paralelepípedos doidos para te deixar sem chão,
pulou pra calçada, esquivou o incerto e começou a trabalhar.