Give-A-Fuck-o-Meter

with a little help from my friends, oh. oh.


Ainda com a cara no travesseiro e a retina
embriagada de sonho, começou sem motivo
aparente a repassar uma série de insucessos,
incertezas, inglórias e infortúnios. Se viu sem
brilho, sem graça, sem apelo, sem juventude
- apesar que somente a última foi uma certeza.
Percebeu que uma parte ínfima do mundo seria
afetada pela sua decisão de sair ou não da cama,
de ensaiar alguma coisa nova no jogo que cumpre
tabela ou ficar ali deitado e esperar, somente esperar.


Num rompante, estava fora da cama. Não
achou motivos suficientes para tal, e não fez disso
grande coisa. Desfilaria por aí com sua carapaça opaca
e cheia de marcas não por despeito ou desafio aos
que se viam cheio de brilho e alheios a toda a feiura.
Eles que fossem ter com o diabo. Ostentaria suas
cicatrizes lustrosas num brinde inapropriado a si mesmo
e toda a desgraça que era sua - pessoal e intranferível;
rasgaria todos os livros de auto ajuda que encontrasse,
carregando na boca um sorriso que ninguém entende
e uma frase pronta a ser cuspida:
"pra nossa sorte, eu não sou pra você"