ele: bem na verdade, não estranhou quando a viu se aproximando.
ela parecia do tipo que gostava de caras iguais ele: poucos amigos,
nenhuma inflexão na voz, quase sem presença física. tá certo que
era muito novo ainda, puxando pela memória consegue lembrar
o dia exato do primeiro encontro - outra vez o último a ser escolhido
pra pelada. gosta de pensar nela, lhe confere aquele ar indiferente,
quase sacro, como se a beleza dela pudesse manter sua cabeça
fora desse mar de merda em qual todos atolavam inevitavelmente.
de um tempo pra cá, notou que sente a presença dela em quase
todos os lugares, quase como um membro fantasma carregado
pra cima e pra baixo. tem por certo o aconchego dos seus braços
e isso lhe passa a mesma sensação de um sol que teima em não
esquentar.
ela: muito mais experiente que ele, sabia logo ao primeiro contato
que seria uma relação duradoura. nunca ligou para suas eventuais
tentativas de trocá-la, sabia que voltaria para seu abraço de noites
chuvosas, pros filmes vazios de esperanças, pros livros que liam
simultâneamente. consegue achá-lo até nas maiores multidões e
adora o sorriso secreto que sua presença causa na boca de seu
amante. essa parceria, segundo ela, a morte só há de consagrar.
