no muito muito perto

conto, só do vigário


ali, logo depois do fim do mundo é que, na virada da maré, se encontra o caminho para a terra do poderia ser. na verdade, algum vivente menos abrilhantado pela inspiração mas dotado de uma caravela naqueles tempos idos em que se podia sair navegando por aí e nomear uma coisa ou duas, certa feita deu a sorte de achar o caminho por acaso, aportou em tão sacro porto seguro e batizou-o de nova bruxelas, o que, cá entre nós, não faz sentido nenhum. digo que tal covarde marinheiro teve sorte porque a trilha que leva à terra dos destinos alternativos só e tão somente só pode ser encontrada pelos sonhadores ou por aqueles que pensam demais enquanto esperam o transporte coletivo. bueno, explico qual o leitmotiv de tão distinto montinho de terra perdido entre aqueles oceanos em que até os viventes marinhos titubeam em ir. aquela jurisdição é pra onde aqueles fatos que, por coesão, deveriam ter mudado a vida de alguém MAS, pelas mãos do destino, esse sádico, não aconteceram, vão parar. sabe aquele momento que o olhar de dois amantes improváveis se cruzam em um lugar qualquer, aquela fração de segundo que podia tacar fogo na pira olímpica do fardo cotidiano e elevar o indivíduo da mera condição de montinho de poeira estelar? pois, sabe quando esse momento falha na passagem do anímico para o empírico? então, esse poltergeist de momento mágico natimorto, eternamente triste e sem razão de permanecer nesse plano tão duro para manifestações etéreas de caráter sentimental, ruma para o único lugar desse mundo (claramente me contradigo, pois é além das fronteiras terrestres) em que será possível se juntar aos seus iguais em volta de uma fogueira e divagar sobre como a vida teria sido se eles não fossem meros fantasmas e sim memórias vivas e presentes, daquelas que passam em flashback no momento em que a morte finalmente consegue emboscar a vida, esse bagre ensaboado. a profecia nunca proferida prega que a vivalma que tiver a boa fortuna de achar o caminho para poderia ser (o que é humanamente possível seguindo os rastros dos fantasmas amargurados que pra lá vagueam em datas de lua minguante no horário da virada da maré, deixando visível para a retina de quem puder interessar algo semelhante a um caminho de lesma galático OU o rastro radioativo deixado em londres por Alexander Litvinenko segundo a ótica de alguém com hipersensibilidade a polônio) vislumbra uma faceta mágica da vida, longe da perfeição porém infinitamente interessante.